sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Alguém levou um tiro



Levou um tiro na cara enquanto era beijada
Quase confundiu o êxtase da paixão
Com a ardência da bala à queima-roupa
“Avisa pra minha mãe”, e logo tudo avermelhou
O marido não ouviu, com arma na mão.
Viu. Não ousou. Não ouviu.

Ele desceu as escadas do prédio
Acompanhando o sangue que também escorria
degrau
por
degrau
Lento. Vistoso.
Eram dois amigos.
O sangue lhe agradecia a existência
E recebia de volta um sorriso.

O sol se pôs a entrar, laranja que só ele
E brilhou as marcas da mão contorcida
Nas paredes do apartamento abandonado
E nas escritas do coração desenhado no papel
Largado no silêncio

Enquanto isso, uma luz fria iluminava a face transtornada
Da mulher desfigurada
Deitada na dúvida da morte
Ao som de suas batidas cardíacas

Ela, moribunda das casas dos enfermos
Cambaleou de cama em cama
Mas nem o cheiro dos doentes pôde sentir:
Não houve nariz para isso.

Ganhou anestesias, pontos, plásticas
Implantes, ossos, arcadas dentárias,
Peles, cabelos, cilhos...
Agradeceu à todos eles.

Hoje, a cara estourada vai ao microfone
E pede compaixão:
“Por favor, não sou um monstro”
“Por favor, não sou um monstro”

Voltará ela um dia a olhar o amor
Em quê?


6 comentários:

  1. Pelo jeito, a inspiração voltou. Ótimo layout! Ótimo texto!

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  2. Texto maravilhoso!
    E esse blog novo tá muito bom, gostei tb da criatividade em escolhermos as idéias pros novos posts!
    Cada post um desafio, rsrs!
    Beijoooo e visita o meu!

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  3. Pois é! A cada post um desafio!
    'Brigada pelos comentários!
    Beijoooos!

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  4. Ótimo início deste novo canto.
    Parabéns por este espaço e por um primeiro texto tão bem bolado.

    Que tenham sucesso e reconhecimento em mais esta aposta.

    R Schieber

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  5. Em que????? Em que???? Em que???????????

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