terça-feira, 15 de setembro de 2009

Minha Banda de Rock



Sou Washington e tenho uma banda de rock. Somos 7 e nos chamamos "Sanguenolência". Nome dado pelo verdadeiro mais novo, Jefferson. E quando digo verdadeiro mais novo, não necessáriamente quero dizer que ele seja o mais da novo da banda, mas é que ele é o meu verdadeiro filho mais novo. "Sanguenolência" não é só uma familia no Rock, mas também na vida real... Uma orquestra de guitarras familiares, eu, minha esposa, duas filhas e dois filhos sendo um verdadeiro, formando exatamente 3 pares de instrumentos... Confesso que se Kathylene tivesse nascido coordenada eu investiria em algumas coreografias, mas não deu.
O "Sanguenolência" se apresenta todos os dias as 17:00 e entra no ápice do se show aproximadamente as 18:15, quando somos atacados por uma onda de inspiração. A eletricidade do nosso som, resulta em cheiro de música sangrenta. E isso pra nós, é o apogeu do Rock n' Roll.
Somos 1 vocalista e 6 guitarristas e como orgulho ostentamos uma coleção de guitarras de variadas cores, algumas grandes, outras menores e até especiais que brilham no escuro.
O "Sanguenolência" nasceu quando Aryanne, a mais velha chegou da rua com uma raquete de matar mosquito, porque aqui em Magé quando a tarde cai, a única solução contra os mosquitos é uma câmara de vácuo e como aqui em Magé não tem câmara de vácuo, onde houver uma fresta, lá estarão eles... Eles vários... Centenas... Mas o fato é que a esperta da Aryanne, (Eu disse isso a Quésia, minha esposa, no dia do nascimento: " A Ary vai ser a primeira e vai ser a mais esperta".) tinha ouvido falar que aquela raquete acabava com os mosquitos e que de tarde ninguém ia querer outra coisa.
Colocamos na tomada para recarregar, e durante as primeiras horas da tarde, sempre que alguém passava por ela por qualquer motivo que fosse, de rabo de olho procuravam descobrir se ela já já estava tudo certo, pronto... Queríamos ver aquilo funcionar e foi observando-a carregar na horizontal, que percebi o quanto parecia uma guitarra. estava sendo levado por esses pensamentos, e quase que num descuido, Wesley, (o bebê que deixaram na nossa porta) arranca a raquete da tomada, mas num berro bem agudo de Kathylene, ele acabou desistindo e a raquete permaneceu ali, se enchendo de fúria assassina.
O relógio deu 17:00 e não precisou mais um segundo, para que um ridículo intruso viesse, e esperado com um sorriso maligno, recebeu o cartão de visitas de Aryanne:

Ao aproximar a raquete do mosquito e acionar o botão lateral, a vítima é puxada pela eletricidade e se explode em algumas prestações de ódio humano. Pernas voam, estalos fortes e brilhosos de eletricidades, e um certo hummie de energia, como se em algum lugar, alguém tivesse deixado o televisor ligado.

Todos olharam maravilhados, menos Eduardo, que eu nunca entendi porquê, nunca se identificou muito com a familia. Enquanto nos distraíamos com aquela demonstração de morte, Wesley foi picado e soltou um berro, quando recobramos o juízo a casa já estava infestada e nós cercados. Num balanço de raquete Aryanne estalou 20, enquanto os outros integrantes, desarmados, buscaram colocar roupas mais longas e artifícios outros como acender aquele espiral verde, baygon e ventilador giratório.
Pensei que horas seriam? Perguntei a Eduardo que respondeu, já debaixo do cobertor e meio de mal-humor: 17:04.
O Ataque tinha só começado, Quésia corria com Kathylene e Keyla pela casa tentando vedar todas as frestas, e fechando as janelas que antes tínhamos achado engraçado deixar abertas, já que Aryanne trouxe uma solução, que tardiamente descobrimos ser só pra ela, que girava no meio da sala estalando insetos, como um Samurai covarde que luta sem inimigos.
Gritei Jefferson, que havia pegado uma jaqueta de couro minha pra se proteger e até de óculos escuro estava, reclamando de que um havia conseguido bater em seu olho. Dei a ele 10 notas de 10 reais que guardava em baixo de Santo Expedito e disse a ele que fosse onde sua irmã tinha comprado a primeira e pegasse mais 5.
-Um pra cada? Perguntou ele
-Sim.
-Até pro Wesley?
-Cala a boca e sai daqui.
Porque sem liderança, o sucesso de uma banda não perdura.
O muleque é rápido e entendeu o recado, e em menos de 15 minutos voltou, com todas as guitarras.
Nesse tempo, inevitávelmente fomos mordidos por alguns mosquitos que ao chupar nosso sangue voltavam a alçar vôo e acabavam por ser estraçalhados pela loucura de Aryanne, esses em específico soltavam um cheiro de carniça, o nosso próprio sangue eletrocutado e fedendo, como se com aquele instrumento, matássemos em nome da paz, parte de nós mesmos. E além de tudo um barulhinho agudo que acompanhava a morte do bicho, gritavam em diferentes tempos e notas, coisa que eu não percebi, porque nunca fui bom em música, mas Eduardo exclamou ainda debaixo da coberta...

- ESSE MOSQUITO MORREU EM RÉ.

Jefferson atravessou o portão da casa e a porta de ferro trazendo atrás de si uma nuvem que tentava afastar com uma guitarra azul, que espertamente tinha escolhido pra si, por ser a mais bonita.

- PEGUEI CARREGADA JÁ, O MOÇO TINHA VÁRIAS.

E antes de completar essa frase todos os integrantes da nossa banda-familia já possuiam suas guitarras. Até Eduardo saiu debaixo da coberta interessado pela música da morte. Foi com suas coordenadas que aprendemos a saber o quanto a dor de uma picada nos resultaria uma nota perfeita, dado que quanto mais sangue houvesse no mini-diabo, mais ele zumbiria agudo na hora da morte. Uma morte em Lá, Uma morte em Mi, Uma morte sem Dó em Dó...
Wesley, coitado, é bebê demais pra aprender a apertar o botão certo e por isso se tornou nosso vocalista da dor, enquanto nós transformamos sangue em música elétrica, o nosso sangue...

"Sanguenolência"




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